sexta-feira, 21 de junho de 2013

Mágoa

Quando a mágoa
se instala,
como uma ausência,
uma ânsia,
de lágrimas a escoar
 a tristeza do ser,
os olhos alagam-se,
o corpo retrai-se,
a alma encolhe...

Sentir que o respeito,
o valor universal,
o querer incondicional,
se afundam,
se amarrotam e descartam
ao mínimo desaire,
ao minúsculo estorvo,
constrói a angústia no peito.

Desvario. O silêncio é presente
num desespero  incessante.

Tudo não passa
de conversa fiada,
de palavras ocas lançadas ao vento, ~
de rugosas superfícies
onde transparecem os nódulos,
os sulcos, as rugas, as fendas...


Como ultrapassar a mágoa?

Por favor...

Por favor, não me analise. Não fique procurando cada ponto fraco meu. Se ninguém resiste a uma análise profunda, quanto mais eu... Ciumento, exigente, inseguro, carente todo cheio de marcas que a vida deixou. Vejo em cada grito de exigência um pedido de carência, um pedido de amor.Amor é síntese é uma integração de dados. Não há que tirar nem pôr. Não me corte em fatias, ninguém consegue abraçar um pedaço. Me envolva todo em seus braços e eu serei o perfeito amor.

Mário Quintana

quinta-feira, 6 de junho de 2013

AMOR (?)

Eu estava tão perto de ti que sinto frio ao pé dos outros.
Paul ÉLUARD

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DIA 100


Um dia especial é aquele onde tropeçámos um no outro.
Ou o lugar onde nos beijámos pela primeira vez. 
Ou aquele quarto de hotel.

Um sítio especial é o útero. E o colo. E o berço. E a escola.
E a casa. E a casa do nosso melhor amigo. E o nosso bairro.

E a nossa rua. E o nosso café.

É também muito especial o sítio onde nada acontece. Ou
aquele onde nunca estivemos. Ou simplesmente aquele
que não existe. Ou o que apenas existe na nossa imaginação. 

E também o sítio que não conseguimos sequer imaginar.
E na verdade é especialíssimo o sítio onde não queremos
estar. E o que nos é indiferente. E aquele que nos magoa.
E o que não suportamos. E o que não gostaríamos que existisse.

Sítio verdadeiramente especial é o texto. Onde cabem to-
dos os sítios que são especiais. E os que, por não serem,
o são. E os que estão, ainda, para o ser.


Mas, de todos, o mais especial dos sítios é aquele onde,
em cada momento, nos encontramos. E onde sentimos
fluir o tempo e a vida. Aquele sítio onde todos temos de
estar, sob pena de não ser possível estar em sítio algum
ou, não podendo sair do mesmo sítio, estar em todos os
sítios ao mesmo tempo.


JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011)

Bem vindos!

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