Aparente glória
Soletro as letras do alfabeto
e com elas construo castelos,
edifico meu secreto desejo,
que no sonho antevejo
e que ao acordar perco,
qual espuma diluida
em transplantes d'açafrão,
sem direitos, sem perdão.
Soletro as letras do alfabeto,
e no sonho do amor,
recupero o sabor
das palavras que proferes,
com enebriante calor.
Esqueço a dor,
ultrapasso a solidão,
envolvo-me no olhar,
ouvindo tua canção
de embalar.
As palavras coincidem
com o desejo e o sentir,
do querer conciliação,
de te ter um dia,
por companheiro paixão.
Realizo as palavras
no inferno da ilusão,
imagino as andanças
no desprazer que convive
com a intensa convicção
de me saber memória:
Pura contradição
de aparente glória,
metáfora sedução.