domingo, 16 de agosto de 2009

Aparente glória

Soletro as letras do alfabeto
e com elas construo castelos,
edifico meu secreto desejo,
que no sonho antevejo
e que ao acordar perco,
qual espuma diluida
em transplantes d'açafrão,
sem direitos, sem perdão.
Soletro as letras do alfabeto,
e no sonho do amor,
recupero o sabor
das palavras que proferes,
com enebriante calor.
Esqueço a dor,
ultrapasso a solidão,
envolvo-me no olhar,
ouvindo tua canção
de embalar.
As palavras coincidem
com o desejo e o sentir,
do querer conciliação,
de te ter um dia,
por companheiro paixão.
Realizo as palavras
no inferno da ilusão,
imagino as andanças
no desprazer que convive
com a intensa convicção
de me saber memória:
Pura contradição
de aparente glória,
metáfora sedução.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mulher saudade

Mulher presente, carente
de nada nem de ninguem,
cujos laços e entrelaços
se desatam e empatam
de extensão e vagar;
cujos afagos e abraços
se esparsam e espaçam
de saudade e afeição.
E, os desejos da alma,
os anseios do coração,
são regatos
que como trapos maltrapilhos,
entrapados com cadilhos,
retemperam seu gelado Verão...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Amo o que não tenho

O som da tua voz, ao longe,
é desconforme,
qual batente desconexa
e sem sentido,
de cansaço e rouquidão,
de desejo e solidão,
que ou se perde, ou se mescla
de saudade e rendição.
E o vento em desalinho
com desalento soprando,
transporta laivos d'esperança,
brisas de encantamento,
sustento de imaginação.
São lembranças de então,
que se reanimam: ressuscitam.
Revive-se a sublimme paixão,
em passageiras lufadas
de carinho perdição,
num feitiço de emoção.
Num instante de repouso,
os tremores são de gozo,
num ritual de feição
em que sexo e calor
não rimam com amor,
em rotunda solidão.
E ainda assim te evoco,
te anseio de mansinho
no espaço do meu ser,
dentro do meu desatino,
junto ao entardecer.
Quero-te inteiro, pleno,
sem nenhuma restrição,
porque amo o que não tenho,
sem qualquer contra indicação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sonhos volantes

Em vão procurei
uma marca de ti
na noite fresca de verão,
na parda memória
do ser que se evita,
do acontecer que se espevita
e se manifesta em contrastes,
de estar permanentes,ausentes
e valentes de angustia e medo.
Em sentir e degredo,
procurei-te no escuro,
no veludo mais puro,
no cinzento do asfalto,
no aconchego da voz.
Encontrei o cansaço,
o lamento
de um jogo inglório,
de dever e silêncios
e arremedos de ser.
E cantei-te, e sonhei-te,
e senti-te,
mas, distante...
Eterna dinamite
de um coração em transplante,
em indómito devir,
de um ser andante.
Quimera de azuis farsantes,
e vermelhos deslumbrantes,
enm vazios contrastantes,
de sonhos volantes,
confiantes,constantes.
Qurer cortante, errante...

sábado, 1 de agosto de 2009

Encurto espaços...

Neste patamar de existência,
a vida dura séculos
na monotonia dos dias,
no desdém do ser,
que num matagal distante,
muito além da vontade
vive o sabor da saudade
no ventre.
Encarcerada em ausências
que se impõem presenças
aparentes e desavenças,
expostas em chagas e mágoas...
São as costas voltadas,
quiçá ainda amadas
presas ao frenesim do querer
que se esgota no padecer,
que se afunda e confunde
na dureza dos lamentos,
na certeza dos tormentos.
Nua de palavras
e de ecos de ser
tecida de escuridão
e cansaços,
e silêncios d'enlouquecer.
Encurto os espaços
para que os laços
não se partam em cacos
e os sentimentos se desfaçam
em farrapos de acontecer.
Não quero que as crostas,
nem as gretas, nem os soluços
permaneçam no meu ser.

Bem vindos!

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