segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DIA 100


Um dia especial é aquele onde tropeçámos um no outro.
Ou o lugar onde nos beijámos pela primeira vez. 
Ou aquele quarto de hotel.

Um sítio especial é o útero. E o colo. E o berço. E a escola.
E a casa. E a casa do nosso melhor amigo. E o nosso bairro.

E a nossa rua. E o nosso café.

É também muito especial o sítio onde nada acontece. Ou
aquele onde nunca estivemos. Ou simplesmente aquele
que não existe. Ou o que apenas existe na nossa imaginação. 

E também o sítio que não conseguimos sequer imaginar.
E na verdade é especialíssimo o sítio onde não queremos
estar. E o que nos é indiferente. E aquele que nos magoa.
E o que não suportamos. E o que não gostaríamos que existisse.

Sítio verdadeiramente especial é o texto. Onde cabem to-
dos os sítios que são especiais. E os que, por não serem,
o são. E os que estão, ainda, para o ser.


Mas, de todos, o mais especial dos sítios é aquele onde,
em cada momento, nos encontramos. E onde sentimos
fluir o tempo e a vida. Aquele sítio onde todos temos de
estar, sob pena de não ser possível estar em sítio algum
ou, não podendo sair do mesmo sítio, estar em todos os
sítios ao mesmo tempo.


JOAQUIM PESSOA, in ANO COMUM (Litexa, 2011)

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