domingo, 24 de janeiro de 2010

Palavras e tempo

Na música te escondes de dia,
como as palavras (nostalgia),
nos silêncios se concentram,
de tempo e lamentos.
Do tempo das palavras
que se transformam, imberbes,
no deslindar do encontro,
na (consentida) avenida,
de vida e de saudade, vivida.
De tempo com tempo
na presença da memória,
cuja ausência determina a aurora,
do nosso amor, agora.
Celebração de abraços
nos amassos devassos que nos ofertámos,
desejos sedentos,
de esperas e quimeras inebriados.
Alentos que intensificámos.
Palavras ao vento,
poesia e tanto.
E sempre lamentos, palavras e tempo...

sábado, 23 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Este é o orvalho dos teus olhos

Este é o orvalho dos teus olhos.
Esta é a rosa dos teus vales.
O silêncio dos olhos está no silêncio das rosas.
Tu estás no meio,
entre a dor e o espanto da treva.
Arrancas-te ao mundo e és a perfumada
distância do mundo.
Chego sem saber, à beira dos séculos.
Despenho-me nos teus lagos quando para ti
canta o cisne mais triste.
O pólen esvoaça no meu peito, junto às tuas
nuvens.
Esta é a canção do teu amor.
Esta é a voz onde vive a tua canção.
As tuas lágrimas passam pela minha terra
a caminho do mar.

José Agostinho Baptista - nasceu no Funchal em 1948

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Encontro encantamento

Soube tão a pouco. Como o doce
que sempre estamos dispostos a repetir,
como a água que devoramos na canícula do estio
ou no sufoco do deserto.
Valeu a infinitude. A medida do mundo.
A certeza do querer, na vontade de ser.
O aconchego na "madrugada" de Inverno.
Renovar, redizer, redescobrir, reviver,
no olhar que enternece,
no sorriso que regala e abastece.
Reduzir a saudade a um esgar, a uma nesga.
Registar o amor, no silêncio, de mãos dadas.
Capaz de energizar cada novo acontecer,
foi nossa entrega: rendição...
Nos interstícios do encontro,
a rescisão da distância,
num placebo encantamento.
Activado o balsâmico odor dos eus,
cujas endorfinas ameaçam revoluções,
conjugámos as línguas, em várias dimensões,
fomos amados amantes até no adeus
(que não foi senão um perene até depois),
numa enfeitiçante presença ausência,
que faz perdurar miríades,
capazes de eternizar ecos, distantes,
sinfonias de sabores estonteantes.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Não te ausentes de mim

Acalenta-me, agasalha-me, ameiga-me,
adoça-me, amima-me, abraça-me.
Sobretudo, não me magoes. Ama-me.
Não deixes que as ausências se instalem,
por muito que o tempo seja curto...
Ata os nós que se estão desatando
na borrasca de um tempo inacessível,
na inclemência do vão que se aperta,
na braveza dos conclaves que se inventam...
Encara o real que se esgota dia-a-dia,
como um manancial de possibilidades
que ao não serem aproveitadas ao milímetro,
apenas corrompem, qual ferrugem,
as estruturas alicerçadas do desejo...
Ameiga-me esta certeza do nada,
este vazio aniquilador do entusiasmo,
esta negretude opaca que sufoca...
Não te afastes de mim, nem pelo silêncio.
O nó que ele provoca, não me deixará respirar.
Não te ausentes de mim, por tanto tempo,
porque me afogo...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Voar

Esconjuro os limites
do meu querer espartilhado.
No braseiro da minh'alma,
nos interstícios do meu ser,
na membrana da minha consciência,
da minha vontade, ferida,
da minha memória, sofrida,
enxoto, escorraço, afugento
esta tendência abrupta,
intrínseca,
de me sentir menor.
Expulsar este demónio,
ousar ser gente.
Antever na infinita certeza
de me saber igual e sentir princesa.
Afastar, espantar, repelir
o estigma da menoridade
que corrói as entranhas
do meu sentir com insistência
é coragem tamanha de força
e desejo valente
que hei-de conseguir e vencer,
para poder finalmente voar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Teço teias de fantasias

No etéreo presente do meu diário
reencontro os abraços ora desfeitos,
perpassando nas palavras proferidas.
Teço teias de fantasias,
nos cantos da mansão
em que escondo meus anseios.
Reconheço nos silêncios
apenas cansaços da ausência dos abraços.
E nas desfolhadas páginas brancas,
encontro versos de amor
em espera inventada, desgastada.
No segredo do meu ser transido,
vislumbro-te em cada esquina do meu corpo,
como se fosses mais do que uma ilusão.
Escrevo-me, pincelando penumbras.
Reencontro a fimbria do desejo,
de reconhecer-te real, ainda,
para além do meu imaginário...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Apeteces-me...

Apeteces-me. Tanto como o aconchego do leito em que te lembro, como a luz do sol no quente entardecer do estio...

Apeteces-me. Sumarento e fresco, presença forte,enebriante, qual néctar ingerido ao som de MOUSKOURI . Apeteces-me. Tanto quanto uma taça de champanhe saboreado sem pressas, já que o tempo é longo e tanto.

Desalento quando o pensamento te traz saudade e desperta nas curvas do passado o eterno silêncio que brada o sentido e o ser no espaço infinito de um acontecer inventado, se define no sabor dos beijos inesquecíveis que acalento. Memória da minha lembrança de nós.

Espero-te,encostada aos dias, devorando nadas que ora me distraem, ora me levam de novo a ti em passos densos, lentos. Através de MOUSKOURI ainda. E sempre, nós.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Rebeldia d'ilusão

É em cada gota de orvalho deslizante,
em cada teia tecida reluzente,
que os dias cantam anos de silêncio,
que as noites contam a tétrica solidão,
cenas de vida. De hoje. E de então...
É assim em cada instante. De rompante,
na neblina do sentir profundo,
renascendo do âmago do desesejo ardente,
valente, estonteante d'emoção,
o deserto d'um querer eterno,
de lúgubre paixão. Trama inocente,
pintada, dia a dia, d'ilusão...
Pinceladas sorrateiras. Cores fulgentes.
Telas construídas de brumosa fantasia,
em encontros fugídios,
plenos de segrado segredo e atenção,
em cujas mãos se venceram anos,
de fios frios desenganos,
que se extinguiram se unindo...
Redes, laços, filamentos desfeitos
nas noites quebradas de ironia
na esperança de um acontecer,
de um só dia,
vivido ao entardecer,
até ao anoitecer, com rebeldia.
Eis o sonho. Eis a ilusão!...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Outra vez mulher...

(Re)nascida. (Re)vigorada do transe,
(re)tocada no anúncio do novo,
(re)surgiu a salvação:
o sabor de (a) mãe,
o esquecimento da mágoa
na passagem ao além.
(Re)saber-me filha,
também (re)definiu a paisagem,
(re)pintou os reflexos
do ser e do querer.
E, num vislumbre de emoção
(re)encontrei os liames,
juntei as pontas,
fortaleci os nós,
(re)estreitei os laços.
Sou novo argamasso,
moderno espaço. (Re)novado.
Velho espírito (re)visitado.
Eis-me: (re)vivi(ficada), a(ni)mada.
De novo mãe. Outra vez mulher...

Bem vindos!

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