quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O gelo venceu...

Envolta em silêncios,
em olhares desnudos,
perante vós,
vestidos de entrudo,
a desandar a roda,
a desfazer a nódoa,
a derrubar o muro...
Desisto e resisto,
batalho e mergulho,
nesse deserto avaro.
Quão brusco reparo!
Quase me suga,
essa areia muda.
Quase entorpece.
Denota o cansaço,
por falta do abraço,
ao vento sueste?...
E a nuvem branda,
de novo desanda,
ameaçando chuva,
após sinistro desdém,
registo agreste,
que me detém...
Por que me magoas?...
Trazes o manto de breu
assobiando vampiros,
mostrando os gemidos,
da dor das escolhas
que o gelo venceu,
e a esperança matou...
Caminho negrume,
nefasto perfume,
que me envolveu
e me encantou...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Diário II

Nota a nota,
página a página,
hora a hora,
gota a gota,
o lamento,
a insignificância,
o sofrimento...
Sinto o desnorte,
o degredo,
o segredo...
E, a sorte ronda,
o sol já nasce,
e a vida dura...
Quanta saudade
nesta brancura
se esvai sorrateira,
e tanto dela mesma,
se perpetua!...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

São rosas, senhor!...

E as lágrimas sedentas
da libertação esperada,
transbordam loucas,
arrogantes,
persistentes,
galopantes...
E, no confronto,
a explicação:
São rosas senhor,
são rosas!...

Só na solidão precipício...

É doloroso sentir,
sem poder dizer o quê,
sem poder dizer porquê,
neste silêncio infinito,
só na solidão precipício...
É difícil libertar a mágoa,
o soluço engasgado,
o aperto incontrolado,
a angústia do vazio...
Nem a música conforta,
nem a pintura denota
nestas palavras sombrias,
a amargura plangente,
de soturnos pensamentos,
e sofrimento absurdo,
de tão pungente e lancinante...
Dói a consciência do ser,
a incerteza do viver...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Veja, você esqueceu...

“Mas deixe-me considerar.
A gota cai, outro estágio foi alcançado. Estágio após estágio.
E por que deveria haver um final para os estágios? E aonde eles nos levam?
A que conclusão?
Pois eles chegam vestindo trajes solenes.
Frente a tais dilemas o justo consulta aquelas celebridades de aparência atraente e grandiosidade
cujo agrupamento vai passando às minhas costas.
No que nos diz respeito, os mestres nos ofendem.
Eis que um homem surge e diz: ‘Atenta, esta é a verdade’, e instantaneamente, eu percebo ao
fundo um gato empoeirado roubando um pedaço de peixe.
Veja, você esqueceu o gato, eu digo.”
Virginia Woolf (The Waves, 1931)2

2. Piaget J. Le jugement moral chez l’enfant. Paris: Z. Alcan, 1932.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Saudades...

Tenho saudades de ti
do tempo em que não havia tempo,
do espaço que era tão nosso,
tão intimamente nosso...
Tenho saudades do abraço,
do afago e do olhar,
que em desdita, cansado,
olhava mais do que olhar...
Temho saudades do riso,
dos acordes musicais,
cujos ecos matinais,
seguiam durante o dia,
tão cristalinos,
tão profundamente soltos
que quase afoitos,
roçavam meu corpo
ávido do teu...
Tenho saudades do tempo
em que te sentia menino,
mas também poderoso, felino,
dominando a situação,
ganhando largo terreno,
no meu pobre coração...
Tenho saudades de ti,
desejo do meu silêncio,
encanto do meu deleite,
perdição do meu coração...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Não te fies tanto...

Não te fies...
Afinal, nesta vida,
nada é certo senão a morte...
E, se sei que te quero,
quando te olho,
e penso que mostro
esse querer em cada instante,
também sei que isso nada vale,
e que a transparência
é somente uma crença
a qual não vislumbro
no teu doce e terno olhar...
Pelo menos não sei ler
essa centelha de ser,
sempre que te vejo
e te desejo,
longínquo entardecer...
Mas, não te fies porém,
porque há vidas,
que a vida contém,
cujos males que vêm,
vêm por bem...
Quem sabe o que virá aí,
para mim e para ti...
Atenta e não te espantes.
Mas, não te fies tanto...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Um dia ...

Um dia,
não precisarei mais
de inventar dias claros
reflexo da intensa luminosidade
do teu doce e terno olhar...
Um dia,
também não terei mais
os sorrisos madrigais
fruto de jogos matinais,
com que quiçá me brindas,
quando me constróis
e me fantasias...
Também um dia,
não terei mais,
a agonia de me perder,
em sonhos triunfais,
desvelos sustidos,
em afagos sumidos,
nos nus lençóis engelhados,
em que derramo os fluídos
dos desejos mal contidos,
com que me convenço
e me espanto de ti,
encanto de mim,
dançando contigo...
Um dia,
tudo será eterno,
como este sentimento etéreo
que me envolve e cativa,
mas quase me aniquila,
no silêncio do meu peito,
neste aperto derradeiro,
que desperta, mal te penso,
que galopa, mal te ouço,
que me assusta, mal me deito...
Um dia... Seremos eternos?!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Vã glória de existir

Luta inglória.
Assumo: não consegui!...
Sobra desejo
mas falta coragem
e é nessa aragem
que me confundo
e me entrego
de braços caídos,
resignada
à (tua) razão...
Sem reforço,
não há excelência que resista,
não há força que subsista,
não há vontade que persista...

Celebração

O dia que se avizinha é um dia especial. Deveria ser um dia de celebração e convite à entrega. Deveria ser um meio, um veículo para o assumir dos aspectos que caracterizam o lado mais profundamente humano do ser, da pessoa que se quer inteira e não fragmentária. Poderia ser a ponte entre as margens que comprimem o rio na libertação dos sentimentos mais puros e das emoções mais íntimas, numa celebração de carinho e serenidade onde o outro se apresentasse como bálsamo refrescante capaz de conciliar o ser e o nada, o desejo e a realização...
Sonho com os elos que configuram a corrente na acepção do ser e do pensar que se unem no sentir e no viver...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

O sonho que emudesceu

Já pouco importa
quando mais nada vale...
Nus vendavais,
emoções ao rubro
esgueirando-se lentamente,
pelas frestas da pele,
em gotículas de suor,
brilhantes, luzentes.
Esvaídas dos poros,
quais brechas sulcadas,
reflectindo as mágoas,
de ingénuas andanças,
de desejos lembrança...
É a vontade que decai,
a força que se perdeu...
É o desafio que se vai,
o sonho que emudesceu...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Desistência escancarada

E o caminho íngreme à espreita,
o frio lá fora em desfeita,
de andar ao léu enfarpelada...
E eu aqui presa, contrafeita,
infeliz na angústia insatisfeita,
do silêncio de ti, acabrunhada...
E tu em ausência rarefeita,
de vazio e saudade, qual maleita,
crias solidão profunda, esvaziada...

E tudo em desistência premente escancarada...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Percurso

Brilhei. Esmoreci.
Vibrei. Assumi.
Batalhei. Fugi.
Mudei. Aprendi.
Ganhei. Perdi. Mas, também cresci.
Amei. Sofri.
Pensei. Resisti. Mas, não venci...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quero acreditar...

E eu que sonhei
auroras boreais,
Vangelis e Quioto!...
Que criei
vã esperança
no valor da humanidade,
no crescimento da vontade!...
Apostei sinergias,
inventando a liberdade...
Outros mundos,
segredos abismais,
profundos...
Quero voltar a sonhar,
a ser ingénua,
a acreditar...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sensações amorais

Num carossel de emoções,
são estranhas sensações
que falam mais alto,
planam acima do super ego,
ultrapassam a barreira,
são amorais...
Valentes e desordeiras,
"ilusões" parceiras
das revelações...
Inspiração. Admoestação.
Inovação.
Opção inacessível,
prisão verosímil.
Obscuridade.
Urgência...

Gianna Nannini - Meravigliosa creatura

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Querer-te...

Sei que estás por aí...
Mas, ver-te,
confirmar a presença,
é ligação à vida,
ao desejo de lembrança
permanente.
Saber-te,
é presença de luz,
na resistência de ser
que me conduz
negando a desistência...
Tenho esta cruz
de querer o impossível:
de te querer...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Expressão

Entreabro a nesga
que me confronta e desola,
se apresenta ironia,
e me consola,
na provocação diáfana,
reflectida em cada dia.
Disfonia alternativa,
surpresa imagem,
translúcido reflexo,
que num desejo de sucesso,
me aniquila e fulmina.
Transformação, mudança,
rendição...
Precisão, geometria,
consentânea parceria,
ávido querer,
desnuda paixão.
Rigor listado, apostado.
Hesitação, indução,
aprendizagem solução.
Sentido significado,
sentimento, expressão.

POR TI VOLARE

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