domingo, 31 de maio de 2009

Ilusão

O tempo, vai. Corre lesto.
Vem e foge, de soslaio,
sem deixar que este Maio
fosse o instante surpresa,
do meu desejo submerso
de neblina e ar disperso
em suplemento, desconcerto.
É a minha triste sina,
vadia de afecto e ternura,
exangue numa brutal loucura
de cansaço desencanto
envolto em silencioso pranto...
Desolação, degredo,
sublime esperança e medo
de nada mais ser: ilusão...
,

sexta-feira, 29 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

GAIVOTA

Gaivota



Retirado de www.myspace.com/amaliahoje

Ruiu o sonho...

Meu coração inclina-se
para o frio matinal
que se afirma,
no cansaço das palavras.
Atiradas de arremesso,
cruas, inesperadas,
foram punhais,
mais que pedras banais
ferindo de morte
o norte expectante,
num mote dançante,
de um sonho sedutor
que quis indolor.
Moribundo este querer,
desata outros nós,
então aprisionados...
A dúvida chegou logo,
e a confiança esbarrou
na muralha das palavras,
pela crueza do dizer,
na secura do agir,
com descrença no sentir,
sem certeza do querer,
ruiu o sonho,
confunde-se a vida,
perdeu-se a esperança.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Projecto ser mulher/ser melhor

É por me sentir desejada
que eu desejo tua presença,
na ausência das minhas memórias,
no sossego do meu quarto,
no silêncio do meu lar,
no vazio do meu ser.
E o desejo, esse,
enche o vácuo,
o leito do meu querer,
e incendeia com o vento,
este espaço cavo meu,
projecto de ser mulher,
desejo de ser melhor.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Arco-Irís Desfeito

Idiota, sim! Porque acreditei,
no eco de um amor distante,
que vislumbrei,
vivo, presente, excitante...
Há mágoa no léxico emocional
das ilusões mal geridas,
de negociações falhadas,
de referentes perdidos,
de sonhos incompreendidos...
Há mágoa no sentir violento,
no vazio que ficou
dum desejo mal contido,
dum rio que já secou...
Do nada, surge o silêncio.
Irrompe descontrolado,
de distâncias indomáveis,
de contextos inabaláveis,
de ausências incontornáveis.
Vem de mansinho a suspeita
que à mingua de falar,
já não tem assunto
e sorrateira, já espreita,
como um tormento,
com ganas de rompimento...
O soluço aperta o peito
num arco-irís desfeito,
num desencantado lamento.
Entrecruzam-se as dores,
pontilham-se os desamores...

sábado, 9 de maio de 2009

Um poema - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Eugénio de Andrade
(Retirado do Bolgue Amor + Energia = Equilíbrio)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Bem vindos!

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