quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

No revés da medalha

Neste revés de medalha
com que largo toda a tralha,
vou sobrepondo ao padecer,
o sonho da partilha,
da cumplicidade reganha,
por vezes estranha,
num caminhando devagar...
Quantas decisões amargas,
destemidas e galhardas
de entusiasmos sãos,
dão às vezes ironias,
em fugas melancolia,
de enorme dimensão,
quais vagas que arrasam
feito tsunamis aflição...
Conjugar esforços,
lutando com garra
pelo que acreditamos,
dar-nos-à segurança
e também a confiança,
de valer a pena o pelejar,
de fazer sentido por cá estar ...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Meu Encanto Desvario

Meu encanto desvario,
meu norte desnorte pleno,
em constante desafio,
num contraste desatento
de envolvente devaneio.
Desejo lúbrico consciente,
dos meus dias assinante,
em permanente abertura.
Pensamento puro simples,
preso a afagos doce mel,
convertidos em pedintes
de outros êxtases,
com novas satisfações
e outras realizações.
Ídolo e porto seguro,
és o bálsamo conselheiro,
dos desnortes vagabundos,
de desertos soalheiros
que me prendem e confundem
e me animam e surpreendem.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Anestesiada

Gestos teus esparsos, comparsas.
Enigma paradigma dilemático,
em esgar inocente, enigmático.
Mágicos os ninhos recepção,
no espaço relação: desejo sensação;
Memória ambição: diálogo profusão,
convívio mas contenção.
Eis-me debruçada sobre a vida,
projectada para a morte...
Senil perspectiva afunilada,
abraçada, confirmada,
descrente, agnostizada,
anestesiada...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

não sei...

não sei o que hei-de pensar,
não sei o que hei-de dizer,
não sei o que hei-de fazer,
não sei como te hei-de amar...

Meu pássaro alado

Meu pássaro alado
que em cada voo sentido,
repensas a vida,
teu percurso significado,
num desejo inacabado,
em que te guia outro valor.
Enérgico, pleno e forte,
evidencias o norte,
que sem pressa se desvia,
ainda que sem euforia.
Em cada nova entrega,
(re)defines o passo,
e intimamente decides
anular meu espaço,
para não desfrutar do sentir
que racionalmente denegas
mas meigamente me entregas
em mimos com que nos brindas,
nos mistérios deste amor.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Teu cheiro maresia...

Teu cheiro maresia,
guardado até ser dia,
na gaveta da memória,
feito dedicatória,
nos farrapos de cetim,
que te convocam.
Lembranças de frenesi,
de espaços e regaços,
e abraços, ternos lassos,
de compassos e afins.
Envolvo-me. Envolvo-te.
Invento-te. Encosto-me.
Embriago-me de ti.
Fecho os olhos.
Revivo:
os silêncios,
os afagos,
os suspiros,
os perigos
...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Quero-te tanto...

Saboreei com gosto o teu afago,
tanto quanto o chocolate
derretido contra o céu da boca,
em volúpia e deleite
assim como o sentir-te em mim,
tão intensamente, quanto o beijo,
e o anseio de me escancarar,
de me dar tremente e húmida,
na tua boca segura e quente...
Por que o fazes? - perguntas.
E, olhando-te no íntimo,
no profundo do teu olhar,
digo-te que não resisto
ao sabor, ao odor, ao calor,
ao desejo de ser querida,
ainda que num curto instante
das nossas tão loucas vidas...
Pudesse eu entregar-me a ti,
para poder libertar-me
desta angústia frustração
em cujo desatino me envolvo,
pelo sabor do furacão
que o teu corpo provoca
e o teu gesto invoca,
no carinho das tuas mãos...
Quero-te tanto,
meu príncipe, meu encanto...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Que importa?!...

Que importa o amanhã
se esta agonia vã,
transpira por entre os dedos,
nos poros dos arremedos,
com que te sinto e te sonho?!
Que importa ainda o hoje,
minha espera de desejo,
encurtado já o devaneio
preso ao volumétrico senão,
oferecido na sedução,
com que me encantaste,
num dia de alucinação?!
Que importa o tudo-nada,
se em cada alvorada,
ainda é a tua imagem
que inicia meus dias,
define minhas valias,
em infindáveis esperanças?!
Que importa?!...

Memórias...

Memórias foscas,
aldrabices pegadas,
fragmentos de vida,
frustração vencida,
arrumada a um canto,
em bocados de gente,
em ideias pingente,
debruadas a confissões,
totalmente banais,
tornadas vendavais
e desejos prisões.
Escancarado o ser,
acreditando vontade,
encaixada saudade,
de devaneio inútil,
imaginação fútil,
de imbuída confiança,
postura de criança,
enganada, aflita...
Enrodilhada em ti,
quis-te como te vi,
mal a indiferença se foi
no deserto esboroado,
em que havia mergulhado,
enquanto te sonhei,
e te amei em pecado,
no negrume da noite,
no jardim que plantei.
Soube a azia o fim
que não o foi para mim,
ficando presa ao esgar,
ao desespero de julgar,
falho o valor de ser,
incidente de te conceber,
inolvidável desilusão...

De mim para mim...

De mim para mim,
no silêncio das palavras,
sinto o vazio,
o desacerto pesado,
construído no negrume
das acusações expostas,
nefastas, impróprias...
Dizer família era sonho,
a amizade, era procura,
e a partilha, a solução.
Desprendeu-se o açaime,
perdeu-se o decoro,
esqueceu-se o respeito,
fechou-se o coração...
Perdi ideais,
reconheci fraquezas,
aprendi limites,
ganhei referências...
De mim para mim repito
o eco dos silêncios
que fui aprendendo a gerir.
De mim para mim evoco,
os rasgões psicológicos,
os nós hercúleos,
os sapos que decidi engolir.
De mim para mim reflicto,
não vale a pena existir,
quando sem desejo de infinito.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Gratidão

Na cinzenta monotonia,
sem outros tons de visão,
com tanto de agonia,
pela insane dispersão,
vacilo na escolha guia,
pela denegrida ambição,
de querer mudar a vida,
dos valentes em questão,
que não denotam valentia,
mas concedem o perdão,
ao orgulho disfonia,
reforçando a gratidão...
Bem haja companheiros,
viajantes de eleição.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Nas veredas do sonho...

Coração aquecido,
de tanto aconchego,
investe em sorrisos,
libertos do medo...

E a força redobra,
nas decisões,
nas ligeiras definições,
que ensaio e desenho,
nas veredas do sonho,
que invento e intento,
na procura d'outro mundo
de esperança, risonho.

Busco cheiros e matizes,
para sem custo aceder,
ao refúgio encantado
da memória doce e leve,
dos dias ensolarados
a que sou tão fiel.

E (re)vejo arco-íris,
no sol da minha manhã,
e gaivotas,e mar azul
que em bruma se desfaz,
com serenidade,
suave e lentamente,
com o odor do lilás.

E, os silêncios,
são dum verde feiticeiro
de um encanto verdadeiro,
de um eterno sedutor.
E olhos mansos revelam,
a faísca e o ardor,
de um génio feito menino,
incrustado num senhor,
em diamante e ouro fino.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O teu abraço...

Um teu abraço,
aconchego lasso,
no peito denso,
é descanso,
partilha e desejo,
projecto de um beijo,
quando em desalento.
Doce-mel odor,
magia de torpor,
em recantos de ser.
Saber a acontecer,
no sabor do querer...

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Quero querer desistir

Estou em vias de fugir,
ir por meu pé,
sem olhar para trás,
sem me despedir,
caminhar, ser audaz...
Ganhar asas,
viajar sem medo,
deixar o degredo,
esquecer o sonho,
libertar desejos,
ultrapassar saudade,
voar, voar, voar...
Quero querer desistir,
de tudo, de uma só vez,
procurar o infinito,
encontrar o Absoluto
e nele, a certeza da paz...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Se (II)

Se a vida fosse parceira,
tomasse ela a dianteira,
para minorar a angústia,
libertar a ansiedade,
desanuviar a saudade...
Se o tempo falasse amizade,
não lamentasse impunidade
sacudisse a desgraça
dos abraços indigentes,
de anseios persistentes...
Se o querer fosse valente,
destemido e não carente,
lavando o comodismo,
da postura entediante,
de desejo definhante...
Se o quotidiano chalaça,
não fosse a ameaça...
Era possível ser gente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Melancolia

Lá se vai pela vazante
o espirito estonteante,
do segredo e da magia,
deixando de lado o turbante,
do formalismo que guia,
rompendo com a sinfonia.
Rapaz te vejo deserto marcado,
de olhar já tão macerado
e sem nenhuma valentia.
Mas, sinto desejo de pecado,
em teu sabor abençoado,
silêncios em disfonia...
E o sulco doce e fresco,
escorre solto e lesto,
em detalhes melancolia.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Há dias assim...

E o desejo vem mais forte,
quando em pele de menina,
percorro meu monte pranto,
exangue, sem companhia...
E o sonho acontece:
abraças-me, proteges-me.
Dás-me a mão ao caminhar...
Há dias frios, cinzentos,
em que é tão triste o acordar!...

Curva-se a vida...

Curva-se a vida
neste silêncio disforme,
na sombra informe distante,
que ameaça tempestade,
o caos em figura satânica.
Cinzenta oprimente,
a serenata ofegante,
qual Mozart incandescente,
afaga a saudade,
permeabiliza a ausência,
confere esperança,
pela imprevisibilidade
da ordem balsâmica...
A chaminé lança para o céu,
o fumo negro do desejo ardente,
numa tentativa frustrada
da libertação singela,
de um coração fechado,
há muito tornado pedra.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sou...

Sou o que o sorriso espelhado no reflexo da imagem desnuda que sem querer se foi solidificando, se foi cristalizando feito gelo frio e duro, mergulhado no escuro das profundezas do ser, deixando ao léu os flancos frágeis no desusado entardecer, me permite, me proporciona, neste outono que é o meu viver...

Os segredos do vento que passa...

O vento bem me segreda,
que é dura a labareda
que tento em vão apagar.
Ele fala de mansinho,
que não és o meu abrigo,
que me estás a maltratar.
Fala o tempo com desgraça,
que na ruela por que passas,
não te poderei abraçar.
Porém, apesar da evidência,
não acato a providência,
e continuarei a lutar.
Caminharei seguramente,
buscando intensamente,
a faísca em teu olhar.
Querer-te-ei ainda assim,
com o mesmo frenesim,
que me há-de libertar.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Quem me dera significar...

Quem me dera que nas significativas estivesse a que com tanto significado foi sentida e construída...
Quem me dera ser apenas um grãozinho de pó arenoso "significativa"...
Quem me dera poder ver para além do visível para que as dúvidas sobre os significados fossem insignificantes...
Quem me dera cingir-me apenas ao significado do sentir...
Quem me dera significar...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Na dança da mudança...

Um para cima,
dois para baixo,
mais um para cima,
de novo um outro para baixo,
mais dois para cima
e, para baixo, vêm três...
É assim meu caminhar:
um coerente vai-vem,
embalando meu serenar.
Subo e desço.
Ando e desando.
E assim, dia após dia,
vou atravessando a vida
buscando a luz,
em função da seiva,
de acordo com a crença,
no decurso da dança
que (re)crio ao amanhecer,
na sequência do sonho,
consequência da esperança.
Ora subo, ora desço.
Ora recuo, ora avanço...
E, na (re)construção,
renovo o andamento:
um passo em frente,
dois atrás,
dois para a frente,
mais outro para trás...
E na dança da mudança
em que me sinto e (re)vejo,
descubro-me ainda desejo,
(re)encontro ainda esperança.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ano Novo

Foi um ano menos mau.
Porém, mostra-se hoje,
um ano novo bom,
assim o espero...
Este ano será melhor
porque quero tanto,
porque acredito mais,
e, porque confio.
O sonho abrirá manhãs,
e desvendará vontades,
lançará sementes
e brilhará a esperança,
nas veredas da mudança.

O sonho permanece

É no desgaste da vigília,
consubstanciado
no poema da entrega
ao delírio da noite,
na loucura da penumbra,
das enebriantes quimeras,
que o entusiasmo remanesce,
que o encanto não se esfuma,
que o desejo reaparece,
que se dissipa a bruma,
e a miséria se esquece...
E o sonho que é eterno,
feito diamante, permanece.

Bem vindos!

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