terça-feira, 29 de abril de 2008

A saudade...

A saudade, a saudade...
O sem sentido,
o desvario,
o cansaço,
o desalento.
A saudade, a saudade...
O silêncio,
a ausência,
a noite,
o desespero.
A saudade, a saudade...
A lembrança,
a decepção,
a aposta,
a frustração.
A saudade, a saudade...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Que inferno?!...

Haverá pior inferno
do que este meu inferno?
Vira para lá, volta para cá,
na cama sem jeito,
coração apressado,
galopando no peito,
a arder, a arder,
da falta, da falta, da falta...
A cabeça às voltas,
o sono suspenso,
o sonho defeito...
Mil imagens passam pela cabeça,
soturnas algumas,
outras flashes fortes,
de ilusão desilusão,
de encanto e desencanto...
E volta que volta,
e vira e desvira
e o sono não vem,
neste inferno sem lei,
neste corpo com frio,
cansado empedernido,
esgotado da falta,
e do vazio...
Tudo sem sentido, sem sentido.
Às voltas na cama,
o escuro desvanece-se
num abrir e fechar de olhos,
qual inferno, amanhece:
o cansaço a doer,
o corpo a falhar,
a cabeça a arder,
a vontade a faltar...
Que inferno se compara
a este inferno meu
que tanto me desgasta?!

domingo, 27 de abril de 2008

Espiral que confunde

A cada novo instante,
a distância
dolorosamente sentida,
desenvolve o vazio,
aprofunda o silêncio.
A solidão é mais intensa.
O rosto de cada manhã,
transporta no seio,
o gosto da saudade,
a tristeza de te não ver,
a dor de te não falar,
a inquietação de te não saber,
sabendo-te apenas ausente.
Aceitar a vida,
não me apazigua.
Deixa-me apenas resignada.
Às vezes (como agora),
enquanto o sono tarda
e teima em não me libertar,
a mágoa extravasa,
e minúsculas pérolas
de translúcido cristal,
desenham, silenciosas,
uma espiral,
que tanto me confunde.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Minha Emancipação

Foste meu encanto,
o meu sonho,
meu princípe risonho,
meu mestre,
de sábia oração,
minha inquietude,
renascida,
no silêncio da canção,
minha verdade,
mistério concretude,
de alento e saudade,
ilusão de liberdade,
solidão e finitude.
Foste o tudo nada
em cada madrugada,
o meu bálsamo,
quando cansada,
meu devaneio puro,
minha emancipação.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Senhor de amorizade

Consistência do ser
que no padecer,
dos silêncios constantes,
de propósitos cruciantes,
se vai desmembrando
em ausências distantes;
Cujos vazios contumazes,
desembainham sinais
que se avolumam
em descomunais queixumes,
quais azedumes esconsos,
transpostos,
em ancestrais costumes.
São brumas que se levantam,
nos interstícios emocionais.
Plangentes murmúrios
de indomável sentir,
traduzindo sussurros
de incompreensível sentido.
E o vazio acontece,
antecedendo a saudade
do elegante sedutor;
Veloz veleiro,
de um porto seguro,
companheiro:
Senhor de amorizade.

sábado, 19 de abril de 2008

E... III

E se a vida
mais não me der do que já deu,
hei-de ainda assim viver
da lembrança de ti,
da saudade
e da imaginação,
do que aconteceu,
daquilo que,
apaixonada,
então vivi
e tão profundamente senti.

Still Loving You

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Eis-me capaz de dádiva...

Na esperança de um bálsamo catalizador,
no sentimento que é bom ser alentado,
no saber que o reforço retempera,
no pensar que o amor rejuvenesce,
no acreditar que a verdade revigora,
eis-me capaz de dádiva que fortalece.

Tudo sem sentido...

Haverá pior inferno
que este inferno?
Não! Nenhum se lhe compara:
vira para um lado,
volta para o outro,
na cama sem jeito,
o afago distante,
a saudade a gelar,
o coração a bater
de encontro ao peito,
galopante,
a bater desfeito.
A falta, a falta, a falta,
a falta... do sonho,
a ausência de sono,
a cabeça a arder...
Tudo sem sentido, sem sentido...
Mil pensamentos,
imagens que vão e vêm sem parar,
flashes fortes,
a cabeça a latejar,
num corpo sedento,
com frio, empedernido...
O escuro desvanece-se
num abrir e fechar de olhos,
amanhece o cansaço
da noite passada,
da falta, da falta, da falta...
Tudo sem sentido, sem sentido...

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Pudesse eu...I

Pudesse eu
minimizar o sentir,
esconder o desejo,
mudar a distância...

Tudo faria sentido

Pudesse eu
minimizar o desejo,
esconder o sentir,
mudar a distância,
aceitar o silêncio,
celebrar o desapego,
confiar na vida,
inventar o sonho,
não perder a esperança,
ultrapassar o desassossego
(...)
Teria outra visão,
seria outro desafio,
valeria outros ideais,
ganharia outras dimensões.
E, tudo faria sentido.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Para quê?

Se fosse para me sentir melhor, seria bom.
Se fosse para adormecer, seria útil.
Se fosse para te esquecer, seria pertinente.
Se fosse para crescer, seria eficaz.
De nada vale perder-me em cada noite,
deixando-me branca de esperança e saudade.
De nada serve verter palavras,
senão o impedir o afogamento,
que as poças de lama preanunciam.
Para quê este repetido escrever
senão para me libertar
deste amgustiado sentir que tanto oprime
de tão intenso e improfícuo,
como de tão não correspondido?!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Murmúrio de mulher

Convidaste-me a sentir.
E, eu quis abandonar-me,
partir,
amar-te até ao infinito.
Não contabilizei a dor,
nem o silêncio saudade,
solidão angustiante,
inspiração da verdade...
À cautela, a voz inaudível,
de desejo sedução,
sussurra teu nome branco,
recordação presente,
invocando teu corpo carícia,
em desabafo pungente
fogo incandescente de ser.
E, num murmúrio de mulher,
convoco-te na noite
de luar transparente,
sabendo que apenas o silêncio
ressoará...

Sonho-te...

Na fidelidade do conhecer,
na confiança do saber,
na verdade do sentir,
acredito no teu olhar,
quando me diz o que fazer.
As dúvidas desaparecem,
e a vontade estremece,
leal e terno conselheiro,
meu ideal companheiro,
sonho bonito, anseio,
quando o desafio acontece.
Se pudesse dizer-te o sentir!...
Traduzir a emoção
viver o fogo paixão,
que me embala e adormece,
e solidão transparece,
na saudade do partir!...
Poderosa sensação
de abandono e convicção,
cúmplices,
de gestos contidos
em efémeros voos,
inebriante tentação.

(...)

Sonho-te memória perdida,
algures meu horizonte matinal...

Aproximei-me de Ti

«Aproximei-me de ti;
e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados.
Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros;
um ar diferente inundava a cidade.
Sentei-me nos degraus, do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer.
Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que,
sem estares ali,
continuavas ao meu lado.
E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.»


in «Poesia reunida 1967 - 2000», "A Partilha dos Mitos" [1982]

segunda-feira, 7 de abril de 2008

...

Com lágrimas de cristal que me consomem e confundem, num sentimento de vazio que transborda pela estonteante certeza da mudança que se avizinha, reflexo de uma bem mais intensa e profunda mudança que iniciei, faz tempo, questiono-me e analiso criticamente todas as contradições que fui e sou e que não sei ainda se quero continuar a ser...

domingo, 6 de abril de 2008

Para Ti

«Sonhei contigo embora nenhum sonho
possa ter habitantes tu, a quem chamo
amor, cada ano pudesse trazer
um pouco mais de convicção a
esta palavra. É verdade o sonho
poderá ter feito com que, nesta
rarefacção de ambos, a tua presença se
impusesse - como se cada gesto
do poema te restituisse um corpo
que sinto ao dizer o teu nome,
confundindo os teus
lábios com o rebordo desta chávena
de café já frio. Então, bebo-o
de um trago o mesmo se pode fazer
ao amor, quando entre mim e ti
se instalou todo este espaço -
terra, água, nuvens, rios e
o lago obscuro do tempo
que o inverno rouba à transparência
da fontes. É isto, porém, que
faz com que a solidão não seja mais
do que um lugar comum saber
que existes, aí, e estar contigo
mesmo que só o silêncio me
responda quando, uma vez mais
te chamo.»

in Poetas Apaixonados
Por Nuno Judíce

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Desassossego...

É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo diz Charles Ramuz.
Mas, será mesmo assim? Não deveria ser antes: É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo? A questão parece-me bem mais interessante. Aliás,na minha opinião, apenas quando ainda há algo para o qual não há resposta ou algo que não está respondido, quando ainda há uma questão em aberto, é nessa altura (e atrevia-me a dizer que é maioritariamente aí), nesse entusiasmo da pesquisa, da procura, do desafio que a beleza deslumbra, que a vida encanta. Quando a resposta se pre/anuncia, algo se perde e se esfuma por entre os sinais concretos, compactos, definidos, delimitados da vida...
Um dia, o desejo de partir foi um intenso e profundo impulso. E isso era/foi belo porque havia emoção, sonho, esperança... Imaginei iniciar a viagem caminhando passo a passo na cumplicidade de ideias, de valores, na crença da confiança, que trouxe o desassossego, ponte para a saída, carruagem para a partida... Desde esse dia sinto que em breve apanharei uma carruagem outra (distinta da de outrora), para uma viagem também outra, sem fim previsível... E, é neste saber não factível, neste deslumbramento de não ser, que se vislumbram reflexos da beleza, metamorfoseada em sendo, indo, caminhando, fugindo, errando, "viajando"... E, o mais belo de tudo isso é a interrogação insubstancializada potencializadora, é o não ser sendo, o não dito possibilidade, o espaço aberto à sedução do ser, à serenidade do acontecer, ao silêncio do existente instante fluído e vitalizador...

No teu Poema

«No teu poema
existe um verso em branco e sem medida,
um corpo que respira, um céu aberto,
janela debruçada para a vida.

(...)
No teu poema existe a dor calada lá no fundo,
o passo da coragem em casa escura
e, aberta, uma varanda para o mundo.

No teu poema
existe o grito e o eco da metralha,
a dor que sei de cor mas não recito
e os sonhos inquietos de quem falha
.
(...)
Existe um rio
a sina de quem nasce fraco ou forte,
o risco, a raiva e a luta de quem cai
ou que resiste,
que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
existe a esperança acesa atrás do muro,
existe tudo o mais que ainda escapa
e um verso em branco à espera de futuro


José Luis Tinoco
(Int: Carlos do Carmo, Uma canção para a Europa)

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Receios...

Se a vida mais não fosse que pura ilusão, estaria segura da minha função.
Assim, descubro a cada passo novas ironias, novos desafios e euforias que se repercutem em outras pre/ocupações que criam ansiedade, que esgotam a vontade no receio pela novidade...
Novamente a aventura do inesperado, do insuspeitado, do imprevisível...
Mas, onde anda o entusiasmo? Que é do esforço benfazejo aplicado ao ideal? Como olhar para a frente? Onde apoiar (segurando o salto para manter o equilíbrio), o corpo cansado, dorido da mente? Quanta leveza será necessária para desfrutar da esperança?
Parece ser hora de reflexão profunda, na comunhão de novas formas de superação e, contudo, parece também que tudo se perderá, ruindo o castelo de areia, nas vagas disformes do ser, no acontecer sem limites, nem fim...
Quem dera que tudo pudesse ter reparação, que todas as coisas pudessem ser reparadas, consertadas...
Receio o amanhã pelo silêncio, pela saudade, pelo (des)espero, pela (des)lembrança...

Bem vindos!

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