É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo diz Charles Ramuz.
Mas, será mesmo assim? Não deveria ser antes: É por tudo ter de acabar que tudo é tão belo? A questão parece-me bem mais interessante. Aliás,na minha opinião, apenas quando ainda há algo para o qual não há resposta ou algo que não está respondido, quando ainda há uma questão em aberto, é nessa altura (e atrevia-me a dizer que é maioritariamente aí), nesse entusiasmo da pesquisa, da procura, do desafio que a beleza deslumbra, que a vida encanta. Quando a resposta se pre/anuncia, algo se perde e se esfuma por entre os sinais concretos, compactos, definidos, delimitados da vida...
Um dia, o desejo de partir foi um intenso e profundo impulso. E isso era/foi belo porque havia emoção, sonho, esperança... Imaginei iniciar a viagem caminhando passo a passo na cumplicidade de ideias, de valores, na crença da confiança, que trouxe o desassossego, ponte para a saída, carruagem para a partida... Desde esse dia sinto que em breve apanharei uma carruagem outra (distinta da de outrora), para uma viagem também outra, sem fim previsível... E, é neste saber não factível, neste deslumbramento de não ser, que se vislumbram reflexos da beleza, metamorfoseada em sendo, indo, caminhando, fugindo, errando, "viajando"... E, o mais belo de tudo isso é a interrogação insubstancializada potencializadora, é o não ser sendo, o não dito possibilidade, o espaço aberto à sedução do ser, à serenidade do acontecer, ao silêncio do existente instante fluído e vitalizador...