quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Desaire...

Desaire. Desatenção. Desilusão.
Desencanto. Desalento. Desamparo.
Surpresa: decepção...
Equívoco. Frustração.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Soneto VI

"Todo en mi vida es un presentimiento.
Soy como hoja medio desprendida
Que ya la agita, sin llegar el viento;
Una hoja temblorosa y conmovida.
Amo, sin verla, clara imagen pura;
Y mis ansias, mi angustia y mi tristeza,
Sólo escupen y buscan en la dura
Realidad de la vida a la belleza.
Yo sabré quién espera y quién llama,
Animando el misterio y escondida,
Cuando esta fiebre que a mi ser inflama,
Ciña, por fin, la forma apetecida.
De amor humano hacia el amor divino,
Voy labrando, sin tregua, mi camino."


Pedro Prado
POETA CHILENO

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Arritmias de inverno

Dolente, na demência insane
do corrupio natalício,
espreito as horas
na azáfama do tempo que corre
e se esconde, em transe,
no frenesi stressante dos ponteiros,
do relógio, seu amante,
qual querer esvoaçante
que se envolve de rompante,
e se escusa acontecer...
Sorri o tempo na desgraça
da soleira do seu casulo.
E impune, sem arte, passa,
devagar e com chalaça,
inane ou desatento,
largando as âncoras ao vento,
ao largo, num instante,
em descargo de consciência...
Sai de mansinho o matreiro,
desdenhoso e zombeteiro,
trajando desusado fato,
escondendo as fantasias
tornadas então agonias,
de exuberante repasto,
num inferno de desgaste.
Ah como são duras e frias
estas invernosas arritmias...

Que é dos sonhos e dos laços?

O vento perpassa lesto,
em redemoinhado desacerto.
Fraquejo.
Há desalento no esconso ser
da espera, vazio.
Anseio o beijo que ateie a chama,
ressurgindo dos escombros,
das esperanças vãs,
qual fénix renascida,
em todas as manhãs,
formosa.
Desperta pela aurora
no berço das horas,
no silêncio das sombras,
lamentos...
Perdida a ilusão,
com o ego no chão,
a verdade da vida afirma-se,
na certeza da inevitabilidade
do cansaço,
feita imensidão e estilhaços...
Que é dos sonhos? Que é dos laços?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Julieta...

Imagem retirada daqui
Não sei por que motivo
"acabaste" um dia comigo
deixando-me só...
Se a verdade que me dizes
era sentir, sem matizes,
um amor intemporal...
Paixão e memória
foi sendo pela vida fora,
nosso modo de viver
e padecer a lembrar...
A procura, a espera,
que a vida, qual quimera,
ditou o mote de ser...
Olvidámos a alegria,
recrutámos mais valias
nos rebentos do ser,
a aparecer...
Lutámos para ser feliz,
tal como qualquer aprendiz
de feiticeiro,
verdadeiramente encantado...
Além de Columbina e Pierrot,
somos mais Julieta e Romeu,
sentindo em uníssono,
memórias sem dó...

domingo, 8 de novembro de 2009

Grito silenciado

Faltas sentidas,
nas vazias avenidas,
doentias,
de desejo, de medo
e angústia,
desespero...
Desabafos desolados,
vencidos desajeitados
de enebriados anseios.
Maravilha o encanto.
Mas, no lamento
entretanto anunciado,
bateu a saudade,
num grito silenciado.
Afogados os segredos
nos desvelos do ser
cansado de te não ver,
caminha ensonado,
algemado de pavor...
Que é de mim, que é de ti?!

“Agora que o silêncio é um mar sem ondas, e que nele posso navegar sem rumo, não respondas às urgentes perguntas que te fiz. Deixa-me ser feliz assim, já tão longe de ti como de mim... (Miguel Torga)

Instantes mínimos...

“Escreverás meu nome com todas as letras, com todas as datas, e não serei eu. Repetirás o que me ouviste, o que leste de mim, e mostraras meu retrato, e nada disso serei eu. Dirás coisas imaginárias, invenções subtis, engenhosas teorias, e continuarei ausente, Somos uma difícil unidade, de muitos instantes mínimos, isso serei eu." (Cecília Meireles)

sábado, 7 de novembro de 2009

Flor gifs

“Procuro a poesia certa, como uma roupa na medida exacta, para vestir a minha alma nua.” (Byafra)

chovendo


"Sou feita de vésperas e dias seguintes, da expectativa que a véspera me faz e da realização que o dia seguinte me traz." (Karla Julia)
"Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que os outros me fizeram." (Álvaro de Campos)
“Sou entre flor e nuvem. Por que havemos de ser unicamente humanos?” (Cecília Meireles)
“Fossemos infinitos, tudo mudaria... Como somos finitos muito permanece.” (Bertold Brechet)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sair dos laços

Sair dos laços baços,
(cujos abraços molestam),
num voo picado,
rasgado,
volteando a liberdade,
abandonando o alvo,
e a conformidade.
Fugir. Rumar ao infinito.
À loucura do meu
e do teu grito.
Fugir da saudade.
Amar para esquecer,
reencontrando liberdade.
Quero viver noutro lugar,
noutro ser,
para novo acontecer...

domingo, 18 de outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009


Retirado daqui

Ausência de ti

São tantas as saudades
que quase sufoco,
que quase enlouqueço.
É a falta sentida
elevada a infinito.
É a vida rechaçada,
o tempo que veloz,
arruína a esperança,
a ilusão do teu abraço.
A solidão adensa
o ar irrespirável no espaço apertado,
feito górdio laço.
Presa nos esporões da impossibilidade,
nos muros labirínticos da verdade,
penso-te, sonho-te,
numa procura incansável de ti,
de liberdade…

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Paradoxos de ser e acontecer

De estômago embrulhado,
de sentires contraditórios
e ambíguos pensares
escondo-me, de mim,
no inferno do ser
em cada amanhecer.

Encafuar a cabeça
no fundo da areia
esperando que o vento
a afunde, e sem alento,
agonizar,
sem espectadores nem rancores,
seria melhor, aposto!...

Que consciência aflita
duma (desta) vida em desdita,
que desfila, feito fita,
e se amofina,
em contradita sina,
e exangues suspiros
desafiando longos vazios
de ser e acontecer...

E caminha e vacila, e soluça.
E avança sem encanto...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O tempo...

O tempo voa, sem descanso
embora no remanso de ser,
convoque nostalgias
de memórias fugidias
de um tempo por acontecer.
Enquanto esconde, nos silêncios,
os desejos incandescentes,
voa lesto de saudade
e de vontade de viver.
De permeio, desnuda o seio
dos afagos envergonhados,
cristalizados,
na memória do sentir...
Se, quando morrer, puder ter
um momento apenas meu,
quererei pensar de novo
nesses laivos de prazer
sonhando-os num todo,
como estando a acontecer,
ainda e sempre, amor...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Sou o foi...

Caminhando no arame,
com o coração a trote,
retomando a outra margem,
recomeçando,
puxando o último primeiro fio,
num tormento renovado
de desejo mal amado,
num desafio truncado
de metasteses cinzeladas,
pelos interstícios do ser
disseminadas,
em malignidade e pudor,
sou sedenta de sinais,
de mensagens matinais
que tardam até o sol pôr;
sou triste simulação,
dum querer vago, tardio,
dum sentir insane e frio,
que entorpece o coração;
sou o foi e o perdão...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Despida de emoções

Engoli as paixões.
Contentei-me com as ausências.
Imaginei carícias enquanto
fantasiei jogos de sedução.
Proporcionei consolação.
Prolonguei, prometi-me a lua...
Sujeitei-me a amar distâncias,
a viver embriagada,
embrenhada em exigências de trabalho,
que a um tempo alienam e realizam...
Sou aqui e agora,
despida de emoções,
feita de cansaços,
das ausências dos abraços,
da falta do ombro largo,
recanto, âncora de afagos,
regato balsâmico de laços...

Idealizo favos de mel...

domingo, 16 de agosto de 2009

Aparente glória

Soletro as letras do alfabeto
e com elas construo castelos,
edifico meu secreto desejo,
que no sonho antevejo
e que ao acordar perco,
qual espuma diluida
em transplantes d'açafrão,
sem direitos, sem perdão.
Soletro as letras do alfabeto,
e no sonho do amor,
recupero o sabor
das palavras que proferes,
com enebriante calor.
Esqueço a dor,
ultrapasso a solidão,
envolvo-me no olhar,
ouvindo tua canção
de embalar.
As palavras coincidem
com o desejo e o sentir,
do querer conciliação,
de te ter um dia,
por companheiro paixão.
Realizo as palavras
no inferno da ilusão,
imagino as andanças
no desprazer que convive
com a intensa convicção
de me saber memória:
Pura contradição
de aparente glória,
metáfora sedução.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mulher saudade

Mulher presente, carente
de nada nem de ninguem,
cujos laços e entrelaços
se desatam e empatam
de extensão e vagar;
cujos afagos e abraços
se esparsam e espaçam
de saudade e afeição.
E, os desejos da alma,
os anseios do coração,
são regatos
que como trapos maltrapilhos,
entrapados com cadilhos,
retemperam seu gelado Verão...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Amo o que não tenho

O som da tua voz, ao longe,
é desconforme,
qual batente desconexa
e sem sentido,
de cansaço e rouquidão,
de desejo e solidão,
que ou se perde, ou se mescla
de saudade e rendição.
E o vento em desalinho
com desalento soprando,
transporta laivos d'esperança,
brisas de encantamento,
sustento de imaginação.
São lembranças de então,
que se reanimam: ressuscitam.
Revive-se a sublimme paixão,
em passageiras lufadas
de carinho perdição,
num feitiço de emoção.
Num instante de repouso,
os tremores são de gozo,
num ritual de feição
em que sexo e calor
não rimam com amor,
em rotunda solidão.
E ainda assim te evoco,
te anseio de mansinho
no espaço do meu ser,
dentro do meu desatino,
junto ao entardecer.
Quero-te inteiro, pleno,
sem nenhuma restrição,
porque amo o que não tenho,
sem qualquer contra indicação.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sonhos volantes

Em vão procurei
uma marca de ti
na noite fresca de verão,
na parda memória
do ser que se evita,
do acontecer que se espevita
e se manifesta em contrastes,
de estar permanentes,ausentes
e valentes de angustia e medo.
Em sentir e degredo,
procurei-te no escuro,
no veludo mais puro,
no cinzento do asfalto,
no aconchego da voz.
Encontrei o cansaço,
o lamento
de um jogo inglório,
de dever e silêncios
e arremedos de ser.
E cantei-te, e sonhei-te,
e senti-te,
mas, distante...
Eterna dinamite
de um coração em transplante,
em indómito devir,
de um ser andante.
Quimera de azuis farsantes,
e vermelhos deslumbrantes,
enm vazios contrastantes,
de sonhos volantes,
confiantes,constantes.
Qurer cortante, errante...

sábado, 1 de agosto de 2009

Encurto espaços...

Neste patamar de existência,
a vida dura séculos
na monotonia dos dias,
no desdém do ser,
que num matagal distante,
muito além da vontade
vive o sabor da saudade
no ventre.
Encarcerada em ausências
que se impõem presenças
aparentes e desavenças,
expostas em chagas e mágoas...
São as costas voltadas,
quiçá ainda amadas
presas ao frenesim do querer
que se esgota no padecer,
que se afunda e confunde
na dureza dos lamentos,
na certeza dos tormentos.
Nua de palavras
e de ecos de ser
tecida de escuridão
e cansaços,
e silêncios d'enlouquecer.
Encurto os espaços
para que os laços
não se partam em cacos
e os sentimentos se desfaçam
em farrapos de acontecer.
Não quero que as crostas,
nem as gretas, nem os soluços
permaneçam no meu ser.

sábado, 25 de julho de 2009

Que foi que nos deu?

Desmanchou-se o liame.
Quebrou-se o elo,
Desatou-se o nó
Instalou-se o gelo,
Perdeu-se a confiança.
Desmorona-se o sonho,
Desconchava-se a ligação,
Desagrega-se o vínculo.
Fecha-se o sorriso,
Apaga-se a ilusão,
Desfazem-se os laços.
Parte-se o coração.
Permanece a mágoa,
Detém-se a esperança,
Que foi que nos deu?

Una lagrima furtiva

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Desalento

Como aceitar o acontecido?
Como enfrentar o outro
no seu espaço de desejo e realização?
Como conjugar o verbo amar
num substituto real
de gozo e satisfação?
Como não sentir o paradoxo,
a desilusão da não pertença?
Como anular o desalento,
a amargura da ausência,
num acidental acto de apetite,
de avidez, de fruição?
Como superar este tormento
de me reconhecer dispensável,
de me identificar (novamente),
inútil, supérflua, excedente?
Como ultrapassar a dor
de me sentir farrapo,
de me saber caco:
Miserável ser,
deste tortuoso andar,
deste sinuoso caminhar?
Pergunto-me: Que fazer?
Respondo-me: Espero um amanhecer,
sem ter medo de acordar...

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Canção da Verdade Jovem

"A verdade cantava no escuro
No cimo da tília sobre o coração

O sol há-de amadurecer dizia
No cimo da tília sobre o coração
Se os olhos o iluminarem

Troçámos da canção
Agarrámos prendemos a verdade
Cortámos-lhe a cabeça debaixo da tília

Os olhos estavam noutro sítio
Ocupados com outra obscuridade
E nada viram"


Vasko Popa
(Trad.: Eugénio de Andrade)
Retirado de:http://oestadodaeducacao.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Afagos Vagos

São afagos os teus vagos pensamentos,
expressos em mensagens que concebes
e me deves mandar,
com sorrisos meigos,
lampeiros, de sedução e encantos,
prantos de meus levianos anseios,
ligeiros, contos de amor.
Calor de meu desassossego
que em desvelo e em degredo,,
liberto em ais e desejos,
enleios d'inocente querer...
Loucuras, ternuras, doçuras,
torturas de silêncios e saudade.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Saudade III

Saudade retractada,
Comprometida;
Saudade cansada,
Assumida;
Saudade indomada,
Restabelecida;
Saudade definhada,
Enlouquecida;
Saudade ofuscada,
Derimida;
Saudade rebuscada,
Entorpecida;
Saudade marcada,
Entumescida;
Saudade temperada,
Ensombrecida;
Saudade determinada,
Ensandescida;
Saudade recalcada,
Rejuvenescida;
Saudade retocada,
Emudecida;
Saudade aprimorada,
Enobrecida;
Saudade suportada,
Envelhecida.
Tão vivida...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Saudades III

São tantas as saudades
que quase sufoco,
que quase enlouqueço.
É a falta sentida,
elevada a infinito;
A vida rechaçada.
O tempo veloz,
que arruina a esperança.
A ilusão do teu abraço.
A solidão adensa o ar,
irrespirável
no espaço apertado,
feito laço,
presa nos esporões da impossibilidade,
nos muros labirínticos da verdade.
Penso-te. Sonho-te,
na procura incansável de ti,
da liberdade...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Saudade Premência

O eco metálico do pensamento
ressoa por entre os veios
dum querer feito tormento,
num amar cantado ao vento
de desejo prenhe: Esperança.
São sementes de meus anseios,
que nos vagares de meus enleios
se perpetuam: Lembrança.
Escapam dos poros,
odores,
que reatam os amores
e os sonhos prazenteiros,
duma ilusão...
A vida corre matreira,
levando os dias: Sorrateira.
Embriagando os sentidos,
nos silêncios forasteiros,
belisca a confiança
dos amantes foragidos...
São meus silêncios: Ausência.
Vazio, perseverança,
numa saudade: Premência.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sufoco

Castigo. É castigo
este sufoco doentio,
esta loucura nefasta
de insuficiência,
de solidão,
dos compassos intenção
que se encolhem,
nas malhas do tempo,
nas descrenças desespero,
das falências
e dos buracos
que se abrem
em escombros,
na passagem dos meses,
nas cadeias dos minutos,
pelos cansaços abruptos
de nada ter ou haver.
Ser suplício o sorriso
quando o soluço desperta
na garganta
e espanta as canções
e liberta as emoções
que me anulam e me tolhem
e me negam a beleza
de uma humilde certeza,
de uma triste sensação
que já magoa,
que separa e atrapalha
e desespera

domingo, 31 de maio de 2009

Ilusão

O tempo, vai. Corre lesto.
Vem e foge, de soslaio,
sem deixar que este Maio
fosse o instante surpresa,
do meu desejo submerso
de neblina e ar disperso
em suplemento, desconcerto.
É a minha triste sina,
vadia de afecto e ternura,
exangue numa brutal loucura
de cansaço desencanto
envolto em silencioso pranto...
Desolação, degredo,
sublime esperança e medo
de nada mais ser: ilusão...
,

sexta-feira, 29 de maio de 2009

domingo, 24 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

GAIVOTA

Gaivota



Retirado de www.myspace.com/amaliahoje

Ruiu o sonho...

Meu coração inclina-se
para o frio matinal
que se afirma,
no cansaço das palavras.
Atiradas de arremesso,
cruas, inesperadas,
foram punhais,
mais que pedras banais
ferindo de morte
o norte expectante,
num mote dançante,
de um sonho sedutor
que quis indolor.
Moribundo este querer,
desata outros nós,
então aprisionados...
A dúvida chegou logo,
e a confiança esbarrou
na muralha das palavras,
pela crueza do dizer,
na secura do agir,
com descrença no sentir,
sem certeza do querer,
ruiu o sonho,
confunde-se a vida,
perdeu-se a esperança.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Projecto ser mulher/ser melhor

É por me sentir desejada
que eu desejo tua presença,
na ausência das minhas memórias,
no sossego do meu quarto,
no silêncio do meu lar,
no vazio do meu ser.
E o desejo, esse,
enche o vácuo,
o leito do meu querer,
e incendeia com o vento,
este espaço cavo meu,
projecto de ser mulher,
desejo de ser melhor.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Arco-Irís Desfeito

Idiota, sim! Porque acreditei,
no eco de um amor distante,
que vislumbrei,
vivo, presente, excitante...
Há mágoa no léxico emocional
das ilusões mal geridas,
de negociações falhadas,
de referentes perdidos,
de sonhos incompreendidos...
Há mágoa no sentir violento,
no vazio que ficou
dum desejo mal contido,
dum rio que já secou...
Do nada, surge o silêncio.
Irrompe descontrolado,
de distâncias indomáveis,
de contextos inabaláveis,
de ausências incontornáveis.
Vem de mansinho a suspeita
que à mingua de falar,
já não tem assunto
e sorrateira, já espreita,
como um tormento,
com ganas de rompimento...
O soluço aperta o peito
num arco-irís desfeito,
num desencantado lamento.
Entrecruzam-se as dores,
pontilham-se os desamores...

sábado, 9 de maio de 2009

Um poema - Eugénio de Andrade

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

Eugénio de Andrade
(Retirado do Bolgue Amor + Energia = Equilíbrio)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Desatino insuportável

Violentado em cada instante,
num sufoco mal contido,
num grito silenciado
na história dos filhos,
irrompe,
no ser dilacerado
a angústia depressiva
envolta em indiferença,
levemente suposta,
manifesta em sentença...
Encolhido num corpo nu,
desbotado e amarrotado,
confunde-se o ser
num cru parecer...
Irremediável padecer
que em cacos implode
e em fragmentos comove
as áreas do seu condado,
as veredas do casão.
Estilhaços escaqueirados
de desejos maltratados,
em infindável tentação,
uma fuga mais que abrupta,
desta vida devoluta,
de estranha solidão.
Má escolha? Punição
que tolhe e embaraça,
pela falha que ameaça,
sofrimento, desrazão...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estranha lucidez

Sei-te nas veredas do mau(meu?) tempo,
apesar de ensolarados desejos
de permanecer esperança.
Neste espaço nu,
carente de aconchego,
(re)visito-me vestindo arrogância,
e num desvelo de maturidade,
transpiro laivos de fraqueza
imbuídos de espontaneidade.
Autênticidade? Não. Não sei...
Talvez apenas fugacidade do ser
que em pleno amanhecer
desfalece de saudade
e se afunda em vontade de mudança...
Escolhi esta vida, em tempos.
Hoje odeio ter de a viver
confrontada comigo mesma,
e com os ecos
da minha memória, insolente.
Cegueira. Surdez. Demência(?)
Estranha lucidez, vã glória
de caminhar direita ao abismo,
guiando-me sobre o fio da navalha,
em busca de um mar acolhedor:
sereno na sua imensidão,
forte para o meu desnorte...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Frases para pensar

A falta de tua fragrância

Podiam ser versos de amor
de paixão, de sedução,
versos de amor
sentido, vivido
num instante, decisão.

Nesses versos de amor,
cantados em noite escura
de insónia e desejo,
de loucura intemporal
na saudade que perdura...

Versos de amor que quis
muito além da decência,
mais do que à dignidade,
mais do que à vida,
num acreditar de inocência.

Versos de amor que chorei,
numa culpa de ignorância
de nua prepotência,
face ao imenso silêncio
à falta de tua fragrância...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Pura magia

Na asa esquerda
como se fora um implante,
a pureza do sentir,
a alegria de ser,
aquela asa conserva,
como se fora um implante,
a certeza do amor...
E na asa da direita
a certeza rarefeita
de um imenso turpor
que o coração enfrenta
num certo entardecer
que te trará sem rodeios
e me deixará anseios
de te saber para mim...
E, ao centro, a maresia,
a estranha sinfonia
de uma paixão pueril
que deseja a cada dia
uma vida diferente,
um azul tranquilizante,
dum sonho, pura magia...

domingo, 22 de março de 2009

Infância revisitada

Valho como ser que ama
mais do que como ser que pensa.
Valho para a realização imensa
da viva chama incandescente
que em meu peito acendeste,
alimento de um viver
cuja simplicidade reclama
o sonho de ser mulher...
Denotando-se a esperança
dum profundo querer,
profuso amanhecer de luz,
bendita alma distinta,
sonhada na genética do meu ser,
no silêncio do meu eu,
no eco da minha memória simples
da infância "revisitada",
estagnada, ingurgitada.
Infame absinto:
Metáfora de um labirinto medonho...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Princípio


"Não tenho deuses. Vivo
Desamparado.
Sonhei deuses outrora,
Mas acordei.
Agora
Os acúleos são versos,
E tacteiam apenas
A ilusão de um suporte.
Mas a inércia da morte,
O descanso da vide na ramada
A contar primaveras uma a uma,
Também me não diz nada.
A paz possível é não ter nenhuma".


Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório

Viagem

Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar…

(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura…
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura
O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga, 1962

domingo, 15 de fevereiro de 2009

"Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.
Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há, de certeza, duas folhas iguais.

Limbo todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
baínha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelos nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.

Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou."


António Gedeão, Poesias Completas (1956-1967),
Lisboa, Portugália Editora, 1975, 5.ª ed.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A magia da semântica

São afagos delicados
frémitos doces,
sussurros melaço,
esses magros pensamentos,
são mensagens que o vento,
transporta enlaçado
nas cristas do tempo,
para mim, de ti,
feito norte friorento.
Concebes e envias
tamanhas doçuras
em letras esguias,
de saudade e ternuras,
impressas no branco,
das folhas virtuais,
soltas ao relento,
em avenidas transversais,
a coberto do mar.
São palavras de encanto
impedlndo-me a amar.
Recebo-te e enleio-me
na magia da semântica
que me embriaga e me alenta...

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Desejo que fluiu

Banalizado, o amor,
no sentir de pressões,
na ausência de palavras,
em estravagâncias...
São parábolas de esperança,
as notícias estonteantes,
em valores implícitos,
interiores deslumbrantes,
na insegurança do nada,
na efeverscência da espera,
no luto da quimera
de um em dois que se intuiu.
Valência que se esgota,
num desejo puro que fluiu...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Saudades II

Saudades do tempo
E de outrora.
Do sabor da vida,
Nu, fresco sumo d’amora.
Chocolate quente,
Canela e sol ardente…
Sorriso largo, faminto
Espreitando a primavera.
Saudade de amante
No ventre da espera.
Silêncio retumbante,
Numa praia distante,
De insane quimera.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Desejo de nada ser

Esqueço os momentos mais apetecíveis
distanciados pela densa solidão presente,
associada à desilusão
de me saber e sentir coisificada.
Engulo silêncios com esforço,
aguento a ausência mascarada
de palavras desgastadas fugidias,
vazias de sentido e de sabor...
Lambo-me os destroços retocados,
num uivo disforme de pavor,
de afectos recusados, mal amados...
Liberto a augústia em soluço longo,
num cristalino lençol humedecido
de emudecido sentir oprimido,
desejo de nada ser, destemido...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Retalhos de experiência

Nevoeiros emocionais
Universo privatizado,
Amontoado,
Atolado na memória.
Frustração,
Obscurecimento,
Obstrução.
Fascínio,
Vertigem inviolável,
Previsibilidade.
Absorção,
Ritual:
Fio do discurso;
Tecelão de esperança.
Incauta,
Inquietante inquietude,
Identidade: retalhos de experiência

domingo, 4 de janeiro de 2009

Espaços de ser

Desejos profundos,
de beijos devassos,
nos esparsos amassos,
em apertados enlaços...
Cansaços vivaços
de telúrica paixão.
Razão de viver,
sonhos de melaço...
Vazão de amor,
litanias,
embaraços,
esvoaços de passos...
Sons. Afagos de tons:
longos espaços de ser...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Quero voar

"Quero voar
-mas saem da lama
garras de chão
que me prendem os tornozelos.

Quero morrer
-mas descem das nuvens
braços de angústia
que me seguram pelos cabelos.

E assim suspenso
no clamor da tempestade
como um saco de problemas
-tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

(Mas qualquer balouçar ao vento me parece Liberdade.)"


José Gomes Ferreira

Bem vindos!

Arquivo do blogue