sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Madrigais intrépidos da existência

Ainda que o agora presente não possa ser senão logo, depois ou amanhã, estarei sempre aqui, ainda que em silêncio ou aparentemente ausente... Aguardarei pacientemente pelo dia do reencontro. Enquanto isso, em silêncio, rasgo com palavras as páginas imaculadas deste diário onde discorro fantasias e estranhas sinfonias que alimentam os voos da minha imaginação. É a esperança que desliza pelas frestas do sentir, reactualizando emoções na magia do sonho que me guia e orienta nos madrigais intrépidos da existência...

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Silêncios feitos desabafos... Palavras...

"A palavra enquanto mensagem, segundo BAKTHTIN (1995), é uma estrutura pura, complexa, que o homem utiliza na sua prática, distanciando o receptor da essência da mensagem que pode ser feita de palavra escrita, falada, cantada, desenhada, pintada, tocada, cheirada, vista, gesticulada, saboreada ou, simplesmente, sentida."

Na voragem dos dias, tudo é coisa nenhuma.
Com ligeireza, adiamos família, amigos, amores, afectos. Deixamos esses entretantos para uma qualquer melhor oportunidade, para um mais adequado e pertinente momento de vida. E, caminhando em passo apressado, corremos contra o tempo, ultrapassando-nos a nós próprios, convencidos de que a meta se encontra ainda lá, naquele espaço de esperança que idealizámos quando ainda crentes adolescentes, humanizados pela certeza de que o amanhã é sempre melhor do que o hoje e seguros que a mudança é sempre portadora e promotora de benefícios e realizações. E corremos lestos pensando que chegaremos a algum lugar...
Eis senão quando, de repente, num fim de tarde qualquer em que o sol começa a esconder-se no horizonte, deixando as suas marcas completamente visíveis, mesmo antes do escuro manto da noite cobrir o mundo fechando o dia, a memória se atravessa subrepticiamente, surpreendendo-nos no âmago da nossa imensa sageza e também no mais profundo da nossa ignorância. É memória mágica, encantada, doce, sedutora que se transfigura e se transpõe para uma memória mágoa, memória luto inacabado, somente balbuciado, feito presente ausente. Memória pungente de silêncios não paridos, grávidos de metafóricas representações não expressas, ausências de palavras, de partilhas, de cumplicidades, de celebrações...
No fundo vem alertar-nos para a certeza de que a saudade é sentimento comum em vivências consensuais de partilhas triunfais, deixadas ao sabor do vento... Vem dizer-nos que há outros como nós que choram em silêncio o que a nós também dói.
Afinal, é a mensageira da solidão em que todos desembocamos. Somos os remorsos de silêncios e de ausências que emergem nos antipodas racionais pela circunstância de estarmos sós e também da vergonha por ir contra a natureza humana que nos distingue pela vivência conjunta que sistematicamente igoramos e silenciamos. Vergonha do que não fizemos, tanto quanto do que não demos e não estivemos. Constrangimento de nos reconhecermos inumanos pela consciência da essência que inconsequentemente olvidamos, não cedendo ao que orgulhosamente controlamos, regulando o jogo com regras de ice player encartado...
Inútil vergonha, vão rebate de consciência! Se por acaso nos permitisse ao menos comunicar, nos exigisse e obrigasse a parar, a partilhar!...
Mas não. Caminhamos apressados estugando o passo para o nosso canto, reengolindo o grito até mordermos as mágoas, mastigando as raivas num refúgio inaudito. Deixamos então que algumas lágrimas grossas deslizem, consentidas, pelo leito já bastante sulcado e perfeitamente definido, cumplices dos soluços entrecortados que por breves instantes produzem espasmos contrafeitos em intervalos regulares de sofrimento incontrolado numa torrente forte que o fosso provocou...
Porém, são apenas breves instantes que rapidamente expurgamos fugindo apressadamente de um caos que pretendemos ordenar. Claro que não temos tempo e não aprendemos nada... Apenas queremos fugir... Como se pudéssemos!...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Amor universal

Se acreditar é o lema,
e até já o escrevia a pena,
tudo irá melhor, certamente.
Tal como os olhos da paixão,
vêem tudo cor-de-rosa,
com a positividade,
o mundo será de outra cor,
passando tudo a ter
um novo e melhor sabor.
A serenidade e a firmeza,
serão de facto a chave
dessa contrastante beleza.
Mas, para que isso aconteça,
é necessário outro saber,
outra maneira de apreender
que ocorra em cada amanhecer...
Os olhos que assim vêem,
trazem a chama consensual,
de um amor universal.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Deixar de te querer...

Ainda tenho que penar
se quero crescer,
se etapas vou queimar,
e não quero padecer.
Percorro em esforço,
um caminho turtuoso,
ando três, desando dois,
batalho com altivez,
sentindo cansaço depois...
Superar-me, eis o lema,
encontrando outro poema
quando for outra mulher.
Isso será certamente,
quando apenas inteligente,
dexar de te querer,
sem me esforçar...

domingo, 25 de novembro de 2007

Silêncio ensurdecedor

Tamanho é o mutismo
que quase é greve de som.
É silêncio ensurdecedor,
vazio desmotivador.
E, uma lágrima teimosa,
rola pela pele rugosa,
cansada de esperança,
presa ao sabor da dança,
que imaginou um dia possível,
mas depressa imprevisível...
Levanto o rosto do chão,
olhando a lua no alto,
e confesso em primeira mão,
a afronta e o desalento,
pela confiança nutrida,
num ser íntegro e honesto
que despertou emoções,
deixando-me desiludida,
pelo desacerto funesto,
em que se tornou a minha vida...
Contudo, ando para a frente.
Mas o coração está atrás,
e o sentimento é mordaz,
sempre que a minha mente,
relembra a doce ilusão,
de confiar plenamente,
num homem desconcertante...

Um dia, sem melancolia...

Violenta a derrapagem,
saudosa a mensagem
que se colou ao desejo,
aquele que sempre vejo,
quando reparo em ti.
E as noites longas,
são mais suportáveis,
quando subreptícia me toco
sentindo-te a ti...
São carícias insaciáveis
que regulam o deserto
em que a vida se tornou...
Espero-te ainda assim,
quentinho ao pé de mim,
um dia, sem melancolia...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Coming Around Again

Sinto...

Sinto tanto a ausência de contacto,
o reforço e o sorriso franco,
que um dia me mimaram sorrateiros,
que já os membros se me adormecem,
no cansaço em que se entorpecem,
numa passividade coagida sem letreiros.

Vi teus olhos densos tão claros,
de novo frescos, se calhar até avaros,
com resquícios de amizade e compreensão.

Voltei a sonhar com a tua companhia,
a ter a certeza de que a sorte me sorria.
Porque sinto tanto prazer na tua sedução?!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Persistências...

De que vale a consciência de tudo isto
se em cada silêncio persiste o abandono,
o vazio da ausência de sentido?!
E olho-te e vejo escolhas anónimas,
que já não entusiasmam nem brilham,
apesar das esperanças condóminas,
dos projectos que ainda se partilham...

Dói-me a solidão

Sem que ninguém veja, escondo compulsivamente a tristeza de me saber sózinha, de me sentir vazia e completamente perdida... Dói-me a solidão...

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Não queria sentir assim...

Em cada desafio que se coloca,
surgem mostras de fadiga,
de provas inolvidáveis de fraqueza,
de cansaço e profundo desalento,
de quem suporta nos ombros,
o peso da solidão e do afastamento.
Não queria sentir assim,
sozinha e sem valores de eleição,
vãmente escaqueirados nos dissabores,
e nos desamores dos corredores,
que apenas aparência são...
Não sei se vale a pena lutar
por dias melhores em cada manhã,
quando em cada tarde,
novo revés irrompe em roda pé,
afundando um pouco mais o bote...
Creio que tudo me indica o fim,
a conclusão de que só a vontade,
não vale e é debalde a frota,
de que o entusiasmo não chega,
de que a esperança é letra morta...
Sinto-me soçobrar na rota da convicção,
pela ficção que se afirma plena,
no faz de conta que se enxerga...
Que excelência? Que alta competição?
É que nada disso já se observa...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Um dia...

Um dia, se o dia ainda se mostrar com tempo, esperarei uma explicação, uma apenas, plena de autenticidade, absolutamente singular e verdadeiramente humana. Hei-de olhar-te bem nos olhos, bem lá no fundo do coração, de mansinho, sem qualquer solicitação, adivinhando razões, sentimentos que para além dos talentos, não sejam também desilusão. Hei-de colher respostas para perguntas que jamais verbalizei, questões que amachucam persistentemente os dias de sonhos amarrotados, desfeitos, cansados, perdidos nos lagos alinhados, construidos pelas águas de levante que escondem abruptamente as cicatrizes mal soturadas, ainda frescas de tão profundas e tão mal saradas porque insaráveis de insatisfeitas... Ainda hei-de ser capaz de vislumbrar nos teus olhos, os segredos de menino, cujos medos se esgueiram defronte dos passos lassos que o quotidiano desvenda e apresenta, feito aço de fugir, para impedir males mais insondáveis, também notáveis porque inebriantes de desconcertantes, pela amoralidade (in)desejada. Ainda, espero eu, descortinar o que se escondeu, num véu apenas teu, amordaçado, subjugado ao mais elementar poder de não querer, por querer muito, enfiado num silêncio sepulcral, aliviando o mal que a "superação" provocou... E, hei-de então ser capaz de secar as mágoas e caminhar, de novo, em busca de novos horizontes, de novos amanheceres, de outros voos em outros entardeceres, mesmo que somente no crepúsculo...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Viver é estabelecer pontes

Amarga a vida,
apesar do doce sonho,
que saboreia esperança,
e vislumbra mudança,
com fé e aceitação.
Baixar os braços,
esperar com paciência,
que as dores se vão,
lavadas pelas águas,
que brotam do coração.
Aceitar perseverando,
na temperança do devir,
velando pelo acontecer,
dos rebentos a florir.
Manter janelas abertas,
nas clareiras do sentir,
reverdejando as fontes,
em suave descernir.
Viver é estabelecer pontes,
elos, nexos, laços de cingir,
é oferecer sorrisos, abraços,
desenhar correntes de unir.

sábado, 17 de novembro de 2007

Simplesmente mulher

Sou do tamanho do que vejo,
do que sinto e intuo.
Sou refúgio benfazejo,
novelo de restrições.
Sou vontade de saber,
complexo de confusões.
Sou silêncio mesclado,
saturado de emoções.
Sou entusiasmo perdido,
no desejo escondido.
Sou saudade reflectida,
na experiência vivida.
Sou de condição humana,
ternamente apaixonada.
Sou simplesmente mulher,
infelizmente não amada.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Já não há vontade

Momentos derradeiros,
inúteis canseiras,
desilusão tamanha,
valente decepção,
de enorme frustação,
que já agonia,
e cuja energia,
está destruida.
Valente desilusão,
angustia brutal,
desejo final,
de paragem estoica,
na serenidade banal,
dos inúmeros desacertos,
pelos esforços inglórios,
desajeitados e sãos,
mas apenas provisórios.
Já não há vontade,
nem desejo de desafio...

(Re)converter demências...

Batalhar retiros,
encontrar desvios,
desejos bravios,
de intensos desafios,
que suplantam as margens
que nos comprimem,
que em cada esquina,
por etapas sucessivas,
confinam o livre arbítrio,
limitando o ser ao parecer...
Amarrotar papéis,
cujos estatutos,
galgaram fronteiras
de muitas maneiras,
nem sempre as mais fieis...
Regressar ao princípio,
esquecendo a infãncia,
despir o feitiço,
largar a ancora,
retomando o porte,
e com ele o norte,
destituído de magia,
privado de emoção,
sem elos do coração...
(Re)vestir nuas memórias
enfarpelar estórias
(re)converter demências,
descodificar aparências,
(re)inventar esperanças...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Inventar amor...

Quem eu quero,
não me quer.
Quem me quer,
mandei embora.
Ficar sozinha?
Que fazer agora?!
Amarrotar o sentimento
(não a roupa nu(m) abraço
que não chega mais).
Amarfanhar a paixão,
banir o desejo,
camuflar a sedução.
Virar costas à solidão.
Abafar, esconder a dor,
silenciar a mágoa,
sair de mansinho.
Inventar amor...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Fugir para não soçobrar

Pelo canto do olho,
observei, dei conta de ti,
do teu fleuma, da tua segurança,
e também da confiança,
que os gestos reflectem,
como se fossem raios de sol,
nas águas tranquilas,
de um lago qualquer.
Olhei-te bem nos olhos,
sentindo o coração pulsar,
e a vontade de te abraçar
tolheu, paralisou-me...
Senti a onda de solidão
que determinou a queda...
Insisti na presença mas,
foi mais forte do que eu,
a vaga que me entonteceu.
Que fazer?
Fugir, para não soçobrar,
por que não?...

domingo, 11 de novembro de 2007

Ah, só eu sei...

Ah, só eu sei
Quanto dói meu coração
Sem fé nem lei,
Sem melodia nem razão.

Só eu, só eu,
E não o posso dizer
Porque sentir é como o céu,
Vê-se mas não há nele que ver.


Fernando Pessoa

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Quem pode dizer para onde vai a estrada?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Desassossego e vãs memórias

Devolvo o sorriso brilhante,
apesar da tristeza arrasante
e do remanescente despeito,
que transporto no peito,
pela ausência de reforço,
e a inexistência de conforto,
na solidão da presença fria,
na áspera desarmonia,
que a tua voz denuncia...
É metálica a proximidade
que desanima e atrofia,
destruindo encanto e magia,
que a quimica (pre)anuncia,
mas a razão desvirtua
e ensombrece a ternura...
Tenho dó desta agonia,
que estranhamente amofina,
desenhando no horizonte,
sentimentos ambivalentes,
vontades contraditórias,
revezes duros, emergentes,
desassossego e vãs memórias...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Pasmo...

Pasmo perante a ousadia,
perante o arrojo,
na audácia descarada,
de ser e de parecer
que se imbricam
e se multifacetam
num reflexo de azimute,
sem verticalidade,
com convivialidade
e com cumplicidade,
em protagonismos reais,
nos alarves comensais,
que se denotam impessoais.
A intuição aguçada,
manifesta maior doer,
por ser capaz de antever,
o que se esconde à socapa...
Quanto desplante,
quanta humilhação...

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Que é da poesia?

Que é da poesia,
neste relato incerto,
neste desumano deserto,
despido de sensibilidade,
sem conforto e humanidade?
A supremacia da razão,
ocultando as maresias,
que de tanto se expraiarem,
em espasmos valentias,
se resumem e harmonizam
em eternas sinfonias,
que se entrecruzam
em nus silêncios profundos
de sobressaltos dançantes,
plenos de diamantes.
Que é da poesia?

Como...

Como fazer o luto,
na presença do defunto?
Como querer serenidade,
se não abona a verdade?
Como cantar emoção,
se o quotidiano é solidão?
Como mostrar sorrisos,
se tanto falham os amigos?
Como sentir paixão,
se o presente é desilusão?
Como sonhar com amor,
se a realidade é torpor?
Como desejar felicidade,
se a vida é só saudade?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pretensões

Pretendo:
Desistir de lutar
por um lugar ao sol
(afinal a sombra também
pode ser acolhedora);
Deixar de valorizar
quem nem dá por mim
(afinal há tão boa gente
que se importa comigo);
Sair da esfera de vôo,
para poder agilmente crescer
sem ser por entre abutres
(afinal há céu sem abutres,
que permite deslizar melhor);
Libertar o ringue
deixando espaços amplos
para as lutas de poder
(afinal o poder é saber);
Abandonar o barco, mesmo
com prenúncio de tempestade;
(afinal após a tempestade
acontece sempre a bonança);
Largar tudo, recomeçar de novo,
para valer a pena o amanhecer
(afinal apenas o novo
promove o aperfeiçoamento,
libertando da solidão).
Proponho-me, porque não?
Quero esquecer, porque sim.

sábado, 3 de novembro de 2007

Limites

Para tudo há limites.
Os meus emergem agora.
Nesta encruzilhada vivida,
manifestam-se, refractam-se,
qual força centrípeta,
descrevendo a trajetória
num movimento circular,
do corpo para o centro,
voltando-se sobre si mesmo,
fugindo do confronto,
e do conforto da relação...
Não permitirei desta vez
que acasos profundos e ocultos,
energias levemente trocistas,
galguem novamente as margens...
Está chegando a hora
de expôr os limites,
de zelar pela vida,
de retornar às origens,
de recomeçar percursos,
de cicratizar feridas,
de selar sentimentos,
de esquecer os sonhos,
de encerrar o meu diário...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Que é da vida?

Há intenções, informações, emoções.
Há razões, complicações, reclamações.
E, há conclusões.
Que é do encanto?
E do deslumbramento?
Que é da vida?!

Bem vindos!

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