sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Que um abraço me bastasse

Que um abraço me bastasse,

ou tua voz me afagasse:

o vazio...

Revolteando os ínfimos sinais

de desencanto e desalento,

provocados pela desilusão intrínseca

de um insight autêntico, 

pleno;

Reconhecendo o vácuo e o nada,

confusos,

pelo complexo vai-vém dos dias;

no devir das semanas,

que originam os meses,

de saudade;

Ininterrupatmente seguidos,

incansavelmente abruptos, 

infames,

pelas ausências peremptórias

dos inexistentes laços,

madraços,

que não intensificam,

nem apertam;

Laços desapertados, 

eivados de dor;

Sentimentos inconstantes,

delirantes...

Quisera voltar atrás, regredir,

ou apenas jazer num instante fugaz,

deixando finalmente de fugir,

de fingir que sou ou serei capaz...

 07/11/2018


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ponto de interrogação ?


Sou um ponto,
mas também uma ponte.
Sou um laço,
 mas também muro.
Sou abraços,
imaginados na canseira dos dias,
desfeitos no aconchego da alma,
refeitos nas memórias distantes.
Sou aguarela,
desfeita pelas vicissitudes da vida.
Sou brasa indelével, tornada tição...
Sou nas memórias distantes,
contradição
Sou eu, sim...
Sou ainda um ponto de interrogação
?

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

AMOR


“Não importa a distância que nos separa, se há um céu que nos une.”


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Poema da minha alienação

Demoro-me no outro lado de mim
porque me atrai
esse ser impossível
que sou
esse ser que me nega
para que seja ainda eu
Porque desejo esse alguém
que me invade e me ocupa
que me usurpou a palavra e o gesto
me fez estrangeiro do meu corpo
e me deixou mudo, contemplando-me.
Lanço-me na procura da minha pedra
no infindável trabalho
de me reconstruir
recolhendo os sinais do meu desaparecimento
percorrendo o revés da viagem
para regressar a um lugar inabitável.
Todas as vezes que me venci
não me separei do meu sonho derrotado
e, assim, me fiz nuvem
reparti-me em infinitas gotas
para que fosse bebido, vertido, transpirado
e voltasse de novo a ser céu..."

Mia Couto in "Poema da minha alienação"
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terça-feira, 27 de outubro de 2015

ESPERA

Horas, horas, sem fim, 
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.


EUGÉNIO DE ANDRADE, In As Mãos e os Frutos

Nunca me esqueci de ti

EU E TU


Dois! Eu e Tu, num ser indissolúvel.

Como Brasa e carvão, centelha e lume, oceano e areia,

Aspiram a formar um todo, - em cada assomo

A nossa aspiração mais violenta se ateia...


Como a onda e o vento, a lua e a noite, o orvalho e a selva,

- O vento erguendo a vaga, o luar doirando a noite,

Ou o orvalho inundando as verduras da relva

- Cheio de ti, meu ser d'eflúvios impregnou-te!


Como o lilás e a terra onde nasce e floresce,

O bosque e o vendaval desgrenhando o arvoredo,

O vinho e a sede, o vinho onde tudo se esquece,

- Nós dois, d'amor enchendo a noite do degredo.


Como parte de um todo, em amplexos supremos,

Fundindo os corações no ardor que nos inflama,

Para sempre um ao outro, Eu e Tu pertencemos,

Como se eu fosse o lume e tu fosses a chama.



António Feijó

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

TU


Pela tua nudez
toda a glória do mundo
cabe em minhas mãos
Ardo
Corre em mim tumultuada
uma lava ardente
que só em ti descobre rumo
e apaga o tempo.



Edgardo Xavier
Publicado no Recanto das letras
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EDGARDO XAVIER (a publicar)

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